Conheci Ira Vidal no final dos anos 80, no Projeto Enturmando da extinta Secretaria do Menor,quando fiz minha estréia como arte-educador de uma turma remanescente de monitores da 19ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Ofereciamos atividades de artes plásticas às crianças e jovens da Vila Penteado num circo-escola no bairro da Brasilândia, zona norte de São Paulo.
Certa vez,por pura inexperiência, não soube como me conduzir num conflito com uma aluna bastante rebelde: Camila.
Apelando para uma ação irrefletida da minha parte. Isto resultou numa quebra da confiança e do pouco respeito construido nessa relação.
Ira nessa época havia sido minha coordenadora (escolhida por meu voto, diga-se), numa reunião de equipe chamou minha atenção para as consequências deste ato .
Senti- me exposto e muito inadequado, sentindo muita vergonha, cheguei a ficar doente!
Durante um bom tempo fiquei ressentido.
Porém isto fez com eu me auto analisasse e procurasse um meio de resgatar a confiança de meus alunos.
Percebi que precisava com todo meu esforço ficar mais presente no nosso ateliê e preparar melhor nossos encontros.
Planejei uma oficina temática com começo, meio e fim, objetivos, cronograma e tópicos a serem vivenciados e discutidos com os alunos.
Chamei esta oficina de resistência (e possibilidades) dos materiais gráficos, plásticos, bidimensionais, tridimensionais, porosos, líquidos, oleosos, naturais, etc.
Sempre enfatizando a experimentação e expressão dos alunos numa atitude de construção de conhecimento coletiva.
Com o tempo percebi que nenhuma ação é neutra ou desinteressada num processo educativo, nossas ações tem consequências e podemos atribuir-lhes significados.
Trago esta experiência formadora no meu caso, que foi propiciada por aquela chamada de atenção feita por Ira naquela fatídica reunião semanal.
Devo-lhe muito desde então.
Desde então ficamos amigos e trabalhamos juntos várias vezes, vida profissional afora.
Ficaram e ficarão para mim sua seriedade e comprometimento, mas também seu humor afiado rápido e perspicácia deliciosa.
Gui Malteze
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